domingo, 16 de agosto de 2009

Alegria, Alegria

Caetano Veloso

Composição: Caetano Veloso

Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou...

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não...

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...

Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...

Quem é Caetano Veloso?


Um encanto esse filho de Dona Canô e Seu Zezinho, nascido em Santo Amaro da Purificação, BA, em 07 de agosto de 1942.

Caetano Veloso é um incansável inventor de arte que nossa imaginação jamais poderia perceber, buscando o intangível e o inatingível, retirando sons, gestos e palavras do mais árido território, capaz de traduzir o concreto, a dor, um jeito, uma paisagem ou pessoa na mais variada e sutil percepção da existência.

Revolucionário em sua poesia nos presenteia com fraseados sonoros que movem nossa alma fazendo-nos vibrar - e consegue mostrar a importância não somente de estarmos vivos como também de que podemos/devemos fazer pela vida.

Caetano nos toca sutilmente com a arte de parâmetros próprios, renovando a linguagem artística, musicando poesias concretas, poetizando sons de timbres desconexos e criando a estética musical.

O que mais impressiona neste "baiano-estrangeiro" de Santo Amaro da Purificação (como bem disse Augusto de Campos), é sua capacidade de mostrar as possibilidades da música provocando verdadeiros curtos-circuitos sociais.

Caetano é a "mais completa tradução" da transformação, de tempo e espaço.